Tratamento Plástico da Estação de Metro São Sebastião II

O revestimento cerâmico da autoria de Maria Keil para a estação de S. Sebastião I aguardou vários anos antes do seu assentamento no local para onde foi concebido. Entretanto, com o surgimento da nova linha vermelha, a arquitectura do átrio norte sofreu uma grande ampliação que acede a uma nova estação – S. Sebastião II.

Nesta altura, na Fabrica Cerâmica Viúva Lamego, onde Maria Keil tinha realizado a primeira parte deste projecto, a autora conheceu o projecto cinético  que desenvolvemos com a fabrica VL.

Fomos propostas para desenvolver o projecto desta segunda estação com Maria Keil, com estes azulejos cinéticos e de resolver o átrio Norte, sem se perder o trabalho já fabricado.

A proposta tem como objectivo garantir a articulação e dar unidade às duas estações. A continuidade é estabelecida através da utilização do mesmo material cerâmico. Assim, como na Linha Azul, o desenho está associado aos percursos e a momentos que acontecem ao longo dos vários espaços partindo sempre do azulejo 14x14 cm como módulo de várias matrizes.

Na nova zona - correspondente à Linha Vermelha - e na adaptação dos painéis do Átrio Norte surge um novo elemento – a textura. Em toda a altura da parede ou apenas parcialmente, sob a forma de estrias verticais mais ou menos densas, este efeito de plissado é composto por 3 novos tipos de azulejos, predominantemente brancos, com relevo e respectivos remates. As superfícies facetadas vão criar vários ritmos que são enfatizados pelo brilho já que a capacidade reflectora é uma das grandes qualidades plásticas do material.

Os diversos momentos, ritmos e acções: a partida, a espera, a chegada e o percurso são assim descritos ao passageiro em todo o seu trajecto sendo a sua percepção compulsiva como consequência da deslocação ao longo da estação.

Este é o vocabulário que vai acompanhar e reagir à arquitectura e aos fluxos que vão acontecendo nestes espaços.

O Átrio Norte, revestido a Padrão Azul e pontuado com algumas árvores, faz a união com a nova intervenção. À medida que se aproxima das saídas dissolve-se em Padrão Branco que se vai desfragmentar até ser branco liso.

A presença da textura vibrante dos Azulejos Cinéticos acentua-se na chegada ao Cais e desenvolve-se numa banda única que se estende sobre o nível de toda a sinalética, bancos e painéis publicitários, evocando a velocidade da partida e da chegada do metropolitano. A cor, diferente em cada um dos cais, surge no cinético de 4 dobras intensificando o efeito óptico que o passageiro vai descobrir ao longo do seu percurso.

Nas galerias dos pisos intermédios, a banda do cais funde-se numa mancha que invade toda a parede e que acompanha a subida de nível. As variações de intensidade da textura, gerada por movimentos horizontais, surgem como rastro deixado pelos passageiros que percorrem este espaço. Este momento de S. Sebastião II poderá ser visto em paralelo com as galerias de S. Sebastião I, que numa situação semelhante, acompanha e anima um longo percurso linear num espaço subterrâneo. Nestas zonas mais profundas, cais e pisos intermédios, o espaço está contido em túneis, com diferentes secções. A verticalidade simétrica da textura criada pelos azulejos cinéticos, ainda que esteja limitada a uma altura máxima de revestimento de 4m, aproximadamente, sugere a marcação total do arco do túnel, dando uma unidade ao todo.

De volta a um espaço de paredes verticais anuncia-se a aproximação das saídas para o exterior e o fim deste longo percurso linear. Assim como nos Átrios Norte e Sul se chega a um espaço que antecipa os espaços verdes que se vão encontrar no exterior, aqui quebra-se a regra da verticalidade simétrica dos túneis e dos longos percursos, desfragmentando estas formas ordenadas em formas livres que vão surgindo ao longo da parede.

 

Local: Estação de Metro São Sebastião II, Lisboa

Cliente: Metropolitano de Lisboa

Tratamento Plástico: Maria Keil + Catarina Almada Negreiros e Rita Almada Negreiros

Data:  2009